É uma manifestação cultural que envolve música, dança, insatisfação em relação à política e ao trabalho, romance e lazer, tudo isso reunido em apresentações com muita criatividade.
Caracteriza-se por grupos que reúnem homens e mulheres (ou homens, apenas), dispostos alternadamente em fileiras com quantidades iguais de um lado e de outro, podendo esse estilo variar, de região para região. A música é feita por violeiros. O catireiro geralmente vestia-se com um estilo sertanejo (camisas, botas, chapéus). As letras das músicas envolviam principalmente romance e insatisfação social.
Os catireiros geralmente tinham um baixo grau de escolaridade. Contudo, com o costume e o repassar da tradição de pai para filho, eles conseguiram, com seus próprios estilos de composição, desenvolver canções inteligentes.
As primeiras manifestações catireiras apareceram no Brasil a partir do século XIX. Sua origem é incerta, mas acredita-se que seja oriunda de europeus, particularmente portugueses, com costumizações e agregações de fragmentos de culturas indígenas e africanas.
Aos 80 anos, José Calisto da Silva (nome popular Beca), ex-catireiro da cidade de Patrocínio, lembra com saudade da época em que se reunia com os amigos para dançar. Seu grupo se chamava Cezarinho, e se reunia com outros dois grupos (Antônio Bombacho e Acácio Roque) e faziam duelos de Catira entre si. “Nasci no ano de 1930, e cresci vendo a tradição Catireira. Dancei só até a juventude, pois a tradição já estava começando a morrer. A Catira está acabando por causa dos novos ritmos que vão surgindo, as crianças e os jovens não querem saber do que é cultural e tradicional. Eles querem cada vez mais, o novo. Novas gerações, novos estilos.” Ele conta ainda que as músicas eram relacionadas aos namoros dos catireiros, aos fatos da época, ligados a política e religião. “Nosso grupo era formado por pessoas mais velhas, todos bóias-frias e pobres. Eu era um dos poucos jovens. A gente não tinha dinheiro para comprar roupas bonitas para dançar, então dançávamos com roupas comuns. Na maioria das vezes, a dança saía sem graça, porque não tínhamos botas que faziam barulho, para fazer aquela batida bonita que tem a dança. Dançávamos descalços, e tinha que ser no cimento, para sair algum som. No lugar do barulho das botas, colocávamos o barulho do chocalho, que era para o som não perder a beleza.” Segundo Beca, mesmo a tradição estando quase esquecida, em uma festa chamada Festa do Carro de Boi, a dupla chamada Lourenço e Lourival, relembra canções e danças catireiras, para mostrar aos jovens o quão divertido era o costume.
No início do período Vargas, a Catira era tradição mais rural que urbana, mesmo assim, era praticada por pessoas que migraram para as cidades em busca de melhores oportunidades. A maioria dos catireiros eram lavradores, serradores e meeiros. Mas havia também aqueles que eram donos de grandes fazendas e que aderiram a cultura, até mesmo por uma questão de lazer. No tocante a cultura, todos podiam ser qualificados como caipiras.
Um exemplo explícito de desgosto por parte deles, se tratando de política, é uma moda chamada Não Voto Mais, feita por Manezinho, um dos mais conhecidos de Uberaba. Nela havia as seguintes palavras:
Eu não sou mais eleitor / Só porque não me convém
Não dou voto por favor / Nem por dinheiro também
Que todo governador / Tanta promessa eles têm
Quando de posto é senhor / Não conhece mais
ninguém.
Por aqui tem um rosto lindo / Desejo amar, mas tenho
Ocultamente é meu melindro / Em regozijo de segredo
Faço pouca declaração / Por ser causa de finanças
Enfeitiçado por sua feição / Não posso perder a
esperança
E não dou demonstração/Pra não haver desconfiança
Este mundo é um planeta / Que a natureza governa
Eu vejo tantas belezas / Na entrada da primavera
Dominado pelas estrelas / Tudo é criação da terra.
No tocante ao trabalho, eles também criavam toadas que expressavam o tamanho esforço físico, o cansaço, e a luta cotidiana. Em exemplo a isso, Manezinho criou Despedida de Serrador, que demonstra também a insatisfação social:
Serra sobe, serra desce / Trinta golpe por minuto
Logo o suor aparece / Não posso parar enxuto
Com isso os braços amolece / Devido ao serviço bruto
O patrão é que enriquece / Eu é que tanto labuto.


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